E aquela Sombra, cósmica e nocturna,
Disse, tomando a forma grandiosa,
Em bruta pedra e saibro, tão soturna,
Do busto fulminado da montanha:
«Eu sou a antiga serra do Marão,
que na tua memória se alevanta,
Toda de estéril fraga e solidão,
Toda em silêncio eterno e branca neve.
Sou aquela montanha, austera e calma,
De bronze e névoa e roxos tons de dor,
Que se esfuma nos longes da tua alma
E se orvalha de lágrimas doiradas...
E cavo, dentro de ti, despenhadeiros,
De onde os lobos famélicos se afastam.»
(...)
E aquela voz de trevas inundou
O litoral celeste; e a voz da serra,
Que Júpiter, outrora, baptizou,
Com um brumoso nome trovejante:
Marão! Onde entra o mar, espadanando!
Onde ecoam os ventos e onde as nuvens,
Sobre os nocturnos píncaros pousando,
São ilusões de fumo, pesos de água!...
(...)
Tudo é milgre e sombra, ó Natureza!
Teixeira de Pascoaes, 1911
Disse, tomando a forma grandiosa,
Em bruta pedra e saibro, tão soturna,
Do busto fulminado da montanha:
«Eu sou a antiga serra do Marão,
que na tua memória se alevanta,
Toda de estéril fraga e solidão,
Toda em silêncio eterno e branca neve.
Sou aquela montanha, austera e calma,
De bronze e névoa e roxos tons de dor,
Que se esfuma nos longes da tua alma
E se orvalha de lágrimas doiradas...
E cavo, dentro de ti, despenhadeiros,
De onde os lobos famélicos se afastam.»
(...)
E aquela voz de trevas inundou
O litoral celeste; e a voz da serra,
Que Júpiter, outrora, baptizou,
Com um brumoso nome trovejante:
Marão! Onde entra o mar, espadanando!
Onde ecoam os ventos e onde as nuvens,
Sobre os nocturnos píncaros pousando,
São ilusões de fumo, pesos de água!...
(...)
Tudo é milgre e sombra, ó Natureza!
Teixeira de Pascoaes, 1911